Testes rápidos: Uma grande solução ou um grande risco?

Rapid tests: a great solution or a great risk?

 

carta-presidente

A tecnologia dos testes rápidos tem recebido vultosos investimentos da indústria de diagnóstico mundial, e por isso estão se multiplicando na diversidade de parâmetros disponíveis e na melhoria da qualidade dos resultados. Mas ainda apresentam limitações que devem ser consideradas quando são estabelecidas as estratégias de seu uso. São testes que devem ser utilizados no conjunto de tecnologias disponíveis e que, de forma racional, buscam o diagnóstico laboratorial definitivo.

Não estamos discutindo a qualidade dos testes rápidos, mas a forma com que são ou podem ser usados. É extremamente perigoso, oneroso e inadequado utilizá-los sem pessoal habilitado, sem controle da qualidade (a letra “C do teste não é controle da qualidade), sem registros adequados, sem encaminhamento seguro e correto do paciente para a complementação do diagnóstico laboratorial e sem a rastreabilidade dos processos.

É muito preocupante que um procedimento laboratorial possa ser banalizado dando a entender que se trata de um teste simples e que qualquer um pode realizá-lo. Existem os autotestes que são produzidos e embalados de forma individualizada com o objetivo de serem manuseados por pessoas leigas e com objetivos bem definidos. Mas o que estamos tratando são de testes rápidos, que são procedimentos laboratoriais e, portanto, devem ser operados atendendo a todos os requisitos técnicos previstos nas normas vigentes

Em nome do acesso mais facilitado não se pode desconsiderar a necessidade de garantir a qualidade do procedimento e a segurança do paciente. Estes testes, sendo utilizados dentro de um processo de triagem e havendo o encaminhamento correto e seguro do paciente para a busca do diagnóstico laboratorial mais conclusivo, tratar-se-ia de uma estratégia ótima para a saúde pública. Porem, usados de forma isolada, insegura e dispersiva, apenas será conveniente para os fabricantes e fornecedores. Além disso, os recursos destinados à saúde, que ja são insuficientes, não podem ser desperdiçados com políticas públicas que não possuem foco na otimização dos processos.

Portanto, a execução dos testes rápidos convém que permaneça vinculada a um laboratório clínico. Se realizados em outros locais, como farmácias e unidades de saúde, devem cumprir com os mesmos requisitos exigidos dos laboratórios. Não é aceitável que exames sejam feitos fora de um laboratório corn segurança inferior. A sociedade tem o direito de receber a mesma qualidade de atendimento, seja qual for o local ou pretexto para a realização do exame.

Com certeza, as Sociedades Científicas estão à disposição das autoridades governamentais para, juntos, construírem políticas públicas com qualidade e segurança, permitindo que os recursos sejam aplicados de forma criteriosa, eficiente e eficaz.

 

Dr. Luiz Fernando Barcelos

Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC)