Prevalência de parâmetros laboratoriais da Síndrome Metabólica de pacientes atendidos no LAC-PUC Goiás, no período de julho a dezembro de 2018
Prevalence of Metabolic Syndrome laboratory parameters of patients attended in the LAC-PUC Goiás, from July to December 2018
Ana Carolina Costa Neves1
Yuri Antônio de Sousa Oliveira1
Amarildo Lemos Dias de Moura2
1Acadêmica(o). Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Goiânia-GO, Brasil.
2Mestre. Docente/Coordenador de Setor. Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Goiânia-GO, Brasil.
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Goiânia-GO, Brasil.
Recebido em 13/12/2019
Aprovado em 11/09/2020
DOI: 10.21877/2448-3877.202100940
INTRODUÇÃO
A Síndrome Metabólica (SM) é o conjunto de manifestações que um indivíduo pode apresentar levando a um aumento no risco de doenças cardiovasculares, sendo encarada como um problema de saúde pública por estar relacionada a uma série de disfunções orgânicas, como elevações da glicemia de jejum, da circunferência abdominal (CA), da pressão arterial (PA), dos triglicerídeos plasmáticos (TG) e redução dos níveis de HDL (lipoproteína de alta densidade). A SM tem patogenia multifatorial e é influenciada pelo modo comportamental e mudanças “fisiológicas/ hormonais” como o estilo de vida sedentário, estresse do cotidiano, a idade senil, a pré-menopausa, menopausa e desencadeada por fatores genéticos.(1-3)
A urbanização aliada ao desenvolvimento econômico, devido à expansão industrial, é associada a extremas mudanças no estilo/hábito de vida das populações, resultando no aumento da prevalência da obesidade e, concomitantemente, na elevação do risco de doenças cardiovasculares (DCV) e Diabetes mellitus tipo 2, com suas respectivas complicações, ambos com fortes relações com o sedentarismo e uma má alimentação.(4,5)
No Brasil, a taxa de pessoas acima do peso subiu de 11% para aproximadamente 60% em um intervalo de 12 anos. Estes padrões de sobrepeso trazem riscos seríssimos à saúde, com grande impacto socioeconômico, uma vez que estão associados a doenças de caráter crônico-degenerativas, de grande custo terapêutico e limitantes para uma série de atividades laborais.(6)
A maioria dos indivíduos com SM é sedentária e apresenta menores níveis de HDL e maior chance de desenvolver apneia do sono, que aumenta o risco de descontrole glicêmico e, consequentemente, leva à resistência insulínica. Todos esses componentes de risco podem levar ao aumento da mortandade, fazendo-se necessária a detecção de doenças metabólicas e cardiovasculares para prevenir e diagnosticar riscos de desenvolver SM.(7)
A dislipidemia encontrada em pacientes com SM aparece em análise de rotina de lipoproteínas como triglicérides elevados e baixas concentrações de colesterol HDL. Uma análise mais detalhada geralmente revela outras anormalidades lipoproteicas, incluindo a apolipoproteína B (Apo B), aumento do número de pequenas partículas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e pequenas partículas de HDL. Todas essas anormalidades são independentemente aterogênicas.(8)
O HDL está em constante remodelamento no plasma sendo formado pela transferência de lipídeos de outras lipoproteínas e células periféricas para sua estrutura, sendo fundamental para sua dinâmica funcional. O HDL é um complexo multiproteico e lipídico, podendo ser subfracionado por técnicas mais sensíveis, tendo dentro de sua estrutura partículas que são anti e pró-aterogênicas, e devido a essa estrutura, sendo o HDL alterado, os outros lipídeos e/ou lipoproteínas poderão apresentar valores dentro da referência.(9)
Uma das proteínas do HDL é a apoA II, que pode promover aterogênese através do transporte reverso de colesterol alterado. Outro mecanismo pró-aterogênico está relacionado à modificação oxidativa da molécula. Uma de suas importantes enzimas associadas é a paraoxonase (PON), que é antioxidante, catalisando os organofosforados e os fosfolipídios oxidados.(10)
A adiposidade visceral compreende o fenótipo lipídico aterogênico que está presente na SM. É encontrado um tipo de adipócito que apresenta intensa atividade lipolítica, há liberação de quantidades excessivas de ácidos graxos livres (AGLs) no fígado. O aumento no fluxo de AGLs neste órgão diminui a captação de insulina, inibe a que se liga ao receptor e consequentemente não é degradado, resultando uma hiperinsulinemia sistêmica. Há também diminuição na degradação da apolipoproteína B100 (ApoB100), gerando aumento da secreção hepática de VLDLs, que são lipoproteínas de densidade muito baixa, que serão metabolizadas à LDL, aumentando o risco de processos oxidativos das mesmas.(11)
A correspondência de Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é de 90% a 95% de todos os casos de DM, e a porcentagem de 80% a 90% destes está associada ao excesso de peso, dislipidemia entre outros componentes da SM.(12)
Não existe um único critério aceito universalmente, havendo várias definições para a SM: NCEP/ATP III (National Cholesterol Education Program – Adult Treatment Panel III), IDF, OMS e outras, no entanto, em um consenso, decidimos utilizar o critério do NCEP ATP III, devido à sua fácil correlação e forte evidência clínica. Segundo esse critério, a SM deve ter como características a combinação de três ou mais dos seguintes parâmetros: CA (> 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres), HDL (< 40 mg/dL para homens e < 50 mg/dL para mulheres ou paciente em uso de antilipêmico), TG (³ 150 mg/dL ou uso de medicação para dislipidemia), PA (³ 130/85 mm/Hg ou paciente em uso de anti-hipertensivo) e GVJ (> 100 mg/dL ou paciente em uso de hipoglicemiante).(13,14)
As doenças cardiovasculares tão comumente presentes em homens e mulheres, cada vez sendo diagnosticadas mais precoce e frequente nas diversas faixas etárias, ressalta um quadro grave na saúde brasileira. Ainda assim há poucos estudos que as associam com a SM e investigam a prevalência deste importante dado epidemiológico.(15)
Mulheres podem apresentar alterações em exames bioquímicos relacionadas ao período de pré e pós-menopausa, tendo um acompanhamento proporcional do aumento na prevalência de SM, principalmente a partir dos 50 anos de idade devido à fase menopáusica. O estrogênio exerce efeito vasoprotetor em mulheres durante todo o seu período fértil, sendo diminuído significativamente quando elas chegam na fase menopáusica, e há estudos mostrando que, com a queda desse hormônio, há um efeito pró-aterogênico muito maior quando comparado a outras faixas etárias, pelo aumento de colesterol LDL e diminuição de HDL.(16)
O objetivo deste trabalho foi apresentar a prevalência de critérios positivos para SM em usuários do Laboratório de Análises Clínicas (LAC) da PUC Goiás, traçando um perfil comparativo com base no sexo e idade que se encaixem nos critérios de inclusão desta pesquisa.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal e descritivo com abordagem quantitativa. É epidemiológico, de base populacional, conduzido no laboratório clínico da PUC Goiás, frequentado diariamente por aproximadamente duzentas pessoas. Os exames bioquímicos foram realizados por meio de kits comerciais com dosagem de HDL colesterol e triglicérides, além da glicemia de jejum, utilizando seus resultados para possível diagnóstico de SM. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, sob o protocolo 235.376.
Por meio dos resultados do LAC-PUC Goiás, analisamos os dados dos pacientes durante o período de julho a dezembro do ano de 2018. Tendo em vista que, segundo os critérios brasileiros, a síndrome metabólica ocorre quando o paciente apresenta três de cinco critérios, como obesidade central (88 cm na mulher e 102 cm no homem), hipertensão arterial (acima de 130/85 mmHg), glicemia de jejum elevada (acima de 125 mg/dL), triglicerídeos elevado (150 mg/dL), e HDL abaixo de 40 mg/dL para homens e abaixo de 50 mg/dL para mulheres. No LAC-PUC Goiás, não se coletam dados antropométricos nem informações sobre a pressão arterial; assim sendo, buscamos os pacientes que apresentaram alterações como: glicemia alterada ou diagnóstico de diabetes; triglicerídeos elevado e HDL baixo, caracterizando uma dislipidemia, fazendo em seguida um gráfico comparando a prevalência de pacientes portadores de síndromes metabólicas com os que não apresentaram alterações nos exames referidos, e outro gráfico apresentando qual faixa etária é mais prevalente por sexo.
Os valores obtidos foram digitados em uma planilha no Excel®, versão 2016, e em seguida foi feito um comparativo da prevalência de SM com pacientes que não apresentaram alterações que caracterizem SM.
Foram incluídos no estudo indivíduos com idade maior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos. Como critérios de exclusão não utilizamos dados de pacientes menores que 18 anos, nem dos que não apresentaram pelo menos dois dos três critérios citados previamente.
Na análise/distribuição dos dados obtivemos 7.798 resultados, dentre eles 4.788 entraram no nosso critério de inclusão e, deles, 1.102 prontuários apresentaram alterações (GJ, HDL e TG).
RESULTADOS
No total foram analisados 7.798 resultados e, destes, alguns foram descartados por estarem devendo material, e/ou não terem realizado os exames englobados neste trabalho. Desta forma, o total de pacientes que fizeram os exames de triglicérides e HDL e glicemia de jejum foi de 4.788, dos quais 1.102 apresentaram-se alterados, representando cerca de 23% do total. Destes, 537 eram homens e 565 mulheres, de faixa etária entre 18 a 92 anos, sendo divididos em grupos com intervalos de 14 anos (Tabela 1).
O Gráfico mostra as alterações mais prevalentes para cada grupo etário, sendo a alteração nos valores de glicemia (> 125), prevalente em todos as faixas, seguido dos triglicérides elevado (> 150) e do HDL (< 40) abaixo do valor de referência.
Quanto às alterações nos níveis de HDL, triglicerídeos e glicemia de jejum de acordo com a faixa etária, foi constatado que o grupo com mais resultados alterados está na faixa de 48-62 anos.
Gráfico. Prevalência de pacientes com alterações LC. PUC-Goiás, julho a dezembro de 2018.
DISCUSSÃO
Considerando a maior prevalência de alterações em pacientes do sexo feminino na faixa etária de 48 a 62 anos, devemos considerar que, nesta faixa etária, as mulheres estão entrando na fase menopáusica, que, em média, se inicia por volta dos 50 anos de idade, e como causa desta mudança, há uma diminuição dos níveis de estrogênio, hormônio esse que atua no equilíbrio entre as gorduras triglicérides e HDL no sangue. Outro hormônio importante é a testosterona que, na menopausa, associa-se à incidência da SM devido à sua relação com a resistência insulínica, baixos níveis de HDL, altos níveis de triglicérides, hiperinsulinemia e Diabetes mellitus. Outro fator que pode ter influenciado o resultado é o fato de as mulheres se cuidarem mais, e frequentarem mais os serviços de saúde.(16)
Já em pacientes do sexo masculino, a maior prevalência se apresenta na faixa de 48 a 62 anos. Esta prevalência pode estar associada à queda da testosterona, que começa em torno dos 40 anos.
Com os dados e resultados obtidos, foram feitas analises estatísticas utilizando-se o teste qui-quadrado, onde os resultados não apresentaram significância estatística no perfil comparativo entre sexo (masculino e feminino) e alterações (alterados e não alterados) para cada parâmetro (glicemia, HDL e triglicérides), e os resultados foram 0,786, 0989 e 0,995 respectivamente.
Considerando que 23% dos pacientes atendidos no LAC-PUC poderiam apresentar ou apresentaram a SM relacionada com os parâmetros laboratoriais alterados como triglicérides maior que 150 mg/dL; HDL colesterol abaixo de 40 mg/dL em homens e de 50 mg/dL em mulheres; glicemia de jejum acima de 110 mg/dL, a frequência diferiu entre os sexos e destacou-se maior índice de SM nas mulheres comparadas aos homens.
Outros fatores que podem ter sido predisponentes para os resultados, como o sedentarismo, ocasionado pela falta de tempo e de disposição, uma alimentação não balanceada, e outro fator que não pode ser descartado, que é uma possível interação medicamentosa, pois certos medicamentos podem causar alterações no funcionamento da tireoide e, consequentemente, nos seus hormônios, dentre outras alterações que influenciam indiretamente na vida e bem-estar do paciente.(17,18)
Por se tratar de alterações multifatoriais, estas são algumas das hipóteses mais prováveis levantadas, considerando-se fatores como idade, sexo, estilo de vida, stress e sedentarismo.
O quadro de hiperglicemia apresentado por este grupo pode estar relacionado a dois fatores, um deles por uma disfunção da célula beta com menor produção insulínica, e o outro ligado diretamente a uma resistência insulínica, que ocorre devido a mudanças corporais em decorrência do envelhecimento, como a diminuição da massa magra, o aumento de massa gorda na região abdominal e a diminuição da atividade física.(19)
O resultado deste estudo, em relação à maior frequência da glicemia em jejum elevada no sexo feminino, é corroborado com o estudo de Sombrio e colaboradores, que também apresentou maior prevalência de glicemia em mulheres, principalmente acima dos 40 anos, com alto risco de DM e DVC.(20)
A porcentagem de prevalência de alterações nos parâmetros bioquímicos analisados por sexo, evidenciou que 23% dos pacientes apresentaram os três parâmetros laboratoriais do diagnóstico da síndrome metabólica. O sexo feminino, dentre eles, apresentou alteração em 53% destes parâmetros, já o sexo masculino apresentou valor alterado em 47%. Estes resultados diferem do que foi observado no estudo de Souza e colaboradores, que mostrou significativa alteração quanto à ocorrência de maior alteração destes parâmetros no sexo masculino em relação ao feminino.(21)
No estudo de Salaroli e colaboradores foi observado, segundo os critérios para diagnóstico de síndrome metabólica escolhidos (NCEP – ATP III, 2008), os sexos masculino e feminino apresentando alterações elevadas nos triglicérides, circunferência de cintura, baixo HDL-colesterol, aumento da glicemia de jejum ou presença de diabetes e obesidade abdominal. Foi constatado também predominância de mulheres, a partir dos 45 anos, portadoras de três parâmetros para SM. Observou-se um aumento do número destes parâmetros conforme o aumento da faixa etária.(15)
CONCLUSÃO
Tendo em vista, o elevado número de pacientes que compõem a faixa etária de 48 a 62 anos, principalmente pacientes do sexo feminino, com alterações nos exames laboratoriais, podemos levar em consideração que esta faixa etária é mais prevalente devido a questões hormonais relacionadas a menopausa (períodos pré e pós), além de representarem o maior grupo de pacientes que se utilizam diariamente do atendimento prestado pelo LAC-PUC Goiás.
Em relação aos dois grupos de faixas etárias anteriores à de maior prevalência (18 a 32 anos e 33 a 47 anos), visando melhores atenções primária e secundária, poderiam ser implementados mais programas como meios de orientação a esta população, atuando de maneira cada vez mais precoce, para que estes possam tomar medidas cabíveis acerca de sua saúde, desde alterações alimentares a estilo de vida, isto é, uma alimentação mais balanceada e atividade física, por exemplo.
A importância de se diagnosticar a SM precocemente deve-se à detecção de doenças que são predisponentes, fazendo com que se diminua o risco de DCV, como exemplo, a isquemia miocárdica.
Em suma, não temos como afirmar que os pacientes apresentam SM, pois faltam dados clínicos, tais como dados de circunferência abdominal e pressão arterial, mas os exames alertam para que esses pacientes busquem uma vida mais saudável e, o mais importante, comprova que a prevenção e o diagnóstico precoce são, reconhecidamente, as melhores formas de evitar complicações.
Abstract
Objective: To present the prevalence of positive criteria for Metabolic Syndrome (MS) in users of PUC Goiás Clinical Analysis Laboratory (LAC), drawing a comparative profile based on gender and age that fit the inclusion criteria of this research. Methods: Cross-sectional and descriptive study with quantitative approach. The biochemical exams were performed by commercial kits, with HDL cholesterol and triglycerides dosage in addition to fasting glucose using their results for possible diagnosis of MS. The study included individuals aged 18 years and over, of both sexes, taking into consideration altered blood glucose or diagnosis of diabetes, high triglycerides and low HDL. With these data, a statistical analysis of prevalence was performed. Results: The total number of patients who had the exams mentioned was 4,788, of which 1,102 were altered, representing about 23%. Of these, there were 537 men and 565 women, aged 18 to 92 years. The most prevalent changes for each age group were blood glucose values (> 125), followed by elevated triglycerides (> 150) and decreased HDL (<40). Regarding changes in HDL, triglycerides and fasting glucose levels according to age, it was found that the group with the most altered results is in the 48-62 age group. Conclusion: By age and gender, the group with the highest prevalence of altered parameters was women, between 48 and 62 years old, possibly due to hormonal issues.
Keywords
Metabolic Syndrome; Diabetes mellitus; sedentary behavior
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Correspondência
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Av. Universitária 1.440, Setor Universitário
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