Orientação ao paciente antes da realização de exames laboratoriais
Patient orientation prior to laboratory examination
Diêgo Passos Aragão1
Raquel Mágda Lima Araujo2
11Bacharel em Biomedicina pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Mestre em Ciências Biomédicas /UFPI, Especialista em Análises Clínicas e Microbiologia pela Universidade Cândido Mendes (UCM), Brasil.
2Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Especialista em Bioecologia, Genética e Aquicultura pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Mestra em Biotecnologia – Universidade Federal do Piauí (UFPI), Brasil.
Instituição: Centro Estadual de Educação Profissional Ministro Petrônio Portela (CEEP) – Parnaíba – Piauí, Brasil.
Recebido em 16/07/2018
Artigo aprovado em 27/06/2019
DOI: 10.21877/2448-3877.201900759
INTRODUÇÃO
No âmbito da assistência à saúde, são imprescindíveis serviços que auxiliem na conduta médica acerca da situação clínica do paciente. Neste contexto, os laboratórios de análises clínicas têm papel fundamental, contribuindo na assistência e promoção da saúde através do funcionamento de diferentes setores (hematologia, bioquímica, imunologia, bacteriologia, parasitologia e uroanálise dentre outros) e pelos constantes progressos na automação, podendo atuar de forma inter-relacionada na análise de diversas amostras biológicas (sangue, urina, fezes, líquor, escarro e dentre outros) e na emissão de milhares de laudos (bioquímicos, hematológicos, imunológicos, microbiológicos, de uroanálise) diariamente, que analisam o estado fisiológico do indivíduo e emitem resultados de forma rápida, precisa, exata e confiável. Esses, após a interpretação pelo médico, podem comprovar, estabelecer ou adicionar um diagnóstico condizente ao histórico clínico do paciente. Assim, os exames laboratoriais podem influenciar em aproximadamente 70% das decisões médicas aplicadas pela equipe médica ao paciente.(1-9)
Os avanços tecnológicos na medicina diagnóstica iniciados desde a década de 1950 e a influência externa do mercado, com intuito de se firmar numa área cada vez mais competitiva, permitiram a automação em alguns setores laboratoriais, proporcionando melhoras significativas em todas as fases laboratoriais (pré-analítica, analítica e pós-analítica), como, por exemplo: teste de proficiência e acreditação laboratorial; aumento da competitividade laboratorial; identificação de amostras por código de barras; aumento da agilidade na execução dos testes e produtividade do laboratório; execução das análises de forma automatizada que minimizam os erros relacionados com processos manuais e, consequentemente, a redução do número de resultados falsos-negativos e/ou falsos-positivos; rapidez na obtenção dos resultados e na entrega dos laudos.(6,10-18)
A fase pré-analítica, definida segundo a Organização Internacional de Padronização como “o processo que inicia cronologicamente com a requisição do exame por parte do médico, preparação e identificação do paciente, coleta da amostra, transporte e início da análise”, ou seja, todas as ações e aspectos prévios antecedentes à fase analítica.(19,20) De acordo com a literatura, os erros nessa fase representam cerca de 46% a 70% daqueles cometidos no processo laboratorial, no qual a maior frequência deles é atribuída ao laboratório. Contudo, na maioria das vezes são negligenciados aqueles relacionados ao paciente decorrentes de uma má preparação antes da obtenção do material biológico.(2,6,19-24)
Mesmo com os consideráveis avanços na área já descritos e apesar da baixa incidência de erros em comparação com a quantidade de exames realizados e por estarem em um ambiente complexo, os testes laboratoriais ainda são propensos a erros em todas as fases laboratoriais. Esses, por sua vez, podem comprometer a precisão e exatidão das análises e, consequentemente, os resultados dos laudos emitidos, como também a reputação do laboratório frente à sua clientela por falta de garantia de qualidade no serviço prestado.(3,8,18) Diante disso, os laboratórios adotam diferentes metodologias para assegurar a credibilidade, precisão e exatidão dos laudos emitidos. Isto inclui métodos para redução de erros nas fases pré-analítica, analítica e pós-analítica, procedimentos de controle de qualidade interno e externo, como o monitoramento das análises realizadas, acreditação laboratorial e programas de certificação laboratorial e instruções ao paciente antes da coleta do material biológico.(3,6,8,11,17,18,22,25-27)
Por ser um fator controlável, o presente trabalho teve como objetivo destacar a importância das recomendações ao paciente antes da coleta de amostra biológica e relatar os exames laboratoriais susceptíveis a erros pré-analíticos resultantes da má preparação do mesmo, com o intuito de minimização dos erros analíticos.
Metodologia
Para produção deste artigo, a revisão bibliográfica teve como bases de dados livros para embasamento teórico, além da utilização de artigos escritos em língua portuguesa e inglesa, dissertações e normas e manuais técnicos referentes ao assunto em língua portuguesa sem restrição de ano de publicação indexados no Google acadêmico, Lilacs, SciELO e PubMed. Os termos utilizados como palavras-chave foram pesquisados nas línguas portuguesa e inglesa: “exames laboratoriais”, “intervalos de referência no laboratório clínico”, “interferentes em exames laboratoriais”, “erros pré-analíticos”, “automação no laboratório de análises clínicas”, “laboratório de análises clínicas”, “identificação de erros pré-analíticos”.
Os critérios de inclusão utilizados levaram em consideração o conteúdo – se o mesmo estava relacionado com os objetivos propostos, e foram excluídos aqueles que não correspondiam a esses critérios. Dos 123 arquivos pesquisados e avaliados foram escolhidos 33, uma vez que estavam dentro dos critérios de inclusão proposto.
Resultados e discussão
Os erros da fase pré-analítica podem impactar negativamente na saúde do paciente ao gerar resultados falso-positivos e/ou falso-negativos e estão relacionados principalmente às inúmeras variáveis envolvidas (Tabela 1)
A detecção destes erros evitaria contratempos, como o inconveniente de coletar nova amostra biológica e custos adicionais ao laboratório pela repetição das análises, além de comprometer a sua reputação frente à clientela por ineficácia na qualidade do serviço prestado.(2,6,8,17-19,24,28)
Existem certas variações nos resultados laboratoriais que podem ser previstas levando-se em consideração ciclos biológicos e circadianos não modificáveis. Conhecendo o ciclo desses ritmos biológicos, pode-se escolher a melhor época para a coleta da amostra biológica, na qual o analito de interesse esteja dentro dos parâmetros clínicos esperados. Contudo, a maioria dos analitos de interesse médico pode sofrer variações importantes decorrentes dos hábitos que antecedem a coleta da amostra biológica comprometendo a precisão e exatidão das análises. Em uma revisão sistemática realizada por Costa & Moreli (2012), constatou-se que nos estudos pesquisados os parâmetros biológicos mais passíveis de alterações são as dosagens de glicose, colesterol, triglicérides, enzimas e eletrólitos.(28)
Por isso, durante a requisição de um exame laboratorial, o médico solicitante deve orientar de forma concisa e clara as precauções necessárias antes da coleta de amostra biológica, visto que o paciente não é um fator nulo, sendo capaz de comprometer a qualidade do serviço que lhe é prestado. Além disso, o paciente deve procurar o laboratório antes da coleta para reforçar as informações recebidas e sanar qualquer dúvida pertinente.(28,32)A Tabela 2 exemplifica alguns setores do laboratório, os testes laboratoriais e os interferentes da má preparação do paciente/cliente que podem gerar laudos equivocados e sua liberação.
Como pode ser observado na Tabela 2, os diferentes analitos avaliados nos diferentes setores laboratoriais são factíveis de variações decorrentes da má preparação do paciente. As consequências desta má preparação associada com a omissão de informações na requisição não relatadas ao flebotomista durante a coleta do material biológico podem induzir a liberação de laudos de diferentes testes laboratoriais com resultados não coerentes com a real situação clínica do paciente. Esses laudos discrepantes com o quadro clínico do indivíduo seriam facilmente desconsiderados quando analisados os resultados com os dados contidos na requisição, levando à não liberação e repetição da análise e/ou coleta de nova amostra biológica.
O impacto ocasionado no sistema de saúde proveniente de erros analíticos onera significativamente os cofres públicos de um país devido aos gastos desnecessários com medicamentos e procedimentos médicos, prolongamento no tempo de hospitalização, novas coletas de amostra biológica, repetição de exames ou até mesmo demora ou não realização de uma intervenção cirúrgica. Erros durante assistência à saúde podem causar sérias consequências ao paciente, desde uma incapacidade ou até mesmo morte.(2,6,7,28)
Goldschmidt & Lent (1995) observaram que 12,5% de erros laboratoriais levaram à tomada de decisões médicas erradas. Plebani e Carraro (1997) relatam que apenas 6,4% dessas decisões foram ocasionadas por esses erros. Segundo Kalra (2004), a frequência de erros laboratoriais mencionados na literatura varia entre os estudos, estimando a prevalência de um erro laboratorial a cada 330-1.000 incidentes, 900-2.074 pacientes e 214-8.316 resultados laboratoriais. Essas disparidades entre as pesquisas são decorrentes das diferentes abordagens na coleta de dados sobre os erros laboratoriais, subestimação e subnotificação até a dificuldade de determinar os danos ao paciente decorrentes desses erros.(31-33).
O impacto ocasionado no sistema de saúde proveniente de erros analíticos onera significativamente os cofres públicos de um país devido aos gastos desnecessários com medicamentos e procedimentos médicos, prolongamento no tempo de hospitalização, novas coletas de amostra biológica, repetição de exames ou até mesmo demora ou não realização de uma intervenção cirúrgica. Erros durante assistência à saúde podem causar sérias consequências ao paciente, desde uma incapacidade ou até mesmo morte.(2,6,7,28)
Goldschmidt & Lent (1995) observaram que 12,5% de erros laboratoriais levaram à tomada de decisões médicas erradas. Plebani e Carraro (1997) relatam que apenas 6,4% dessas decisões foram ocasionadas por esses erros. Segundo Kalra (2004), a frequência de erros laboratoriais mencionados na literatura varia entre os estudos, estimando a prevalência de um erro laboratorial a cada 330-1.000 incidentes, 900-2.074 pacientes e 214-8.316 resultados laboratoriais. Essas disparidades entre as pesquisas são decorrentes das diferentes abordagens na coleta de dados sobre os erros laboratoriais, subestimação e subnotificação até a dificuldade de determinar os danos ao paciente decorrentes desses erros.(31-33)
Conclusão
Diante do contexto apresentado, fica evidente a importância das orientações que antecedem a coleta de material biológico ao paciente, e que o mesmo não omita nenhuma informação durante a coleta ou preenchimento da requisição, visto que as discrepâncias encontradas entre os resultados e situação clínica-patológica poderiam ser facilmente reconhecidas ao se analisar a requisição e, consequentemente, a não liberação dos laudos. Além disso, a garantia da qualidade dos resultados e dos laudos laboratoriais emitidos não depende somente do laboratório de análises clínicas, mas também da conscientização dos pacientes acerca dos fatores pré-analíticos anteriormente citados, os quais podem alterar os analitos de interesse médico. Por isso, é de suma importância que o paciente/cliente siga as orientações prestadas, para, dessa forma, minimizar tais interferentes e garantir a precisão, exatidão dos laudos e segurança da prestação da conduta médica aplicada.
Abstract
Laboratory reports are critical in medical decision making. Technological and statistical advances have provided diagnostic medicine with significant improvements in all laboratory stages. The pre-analytical phase corresponds to approximately 70% of the laboratory errors, associated to the innumerable variables. The literature shows that errors are attributed to laboratories, although the patient is not a null factor. The aim of the study was to report the variables resulting from poor patient preparation that may impact the results of laboratory tests and lead to unnecessary medical interventions. The bibliographical research was conducted in laboratory medicine books and online platforms (LILACS, SciELO, PubMed and Google Scholar) using the keywords: “laboratory tests”, “reference intervals in the clinical laboratory”, “interferents in laboratory tests”, “pre-analytical errors” in Portuguese and English. It is evident that different laboratory sectors can issue reports that do not correspond to the actual clinical situation of the patient due to poor preparation of the same. The guidelines passed should be clear and objective, ensuring their correct follow-up and ensuring the quality of the service provided. Therefore, there would be a minimization of the pre-analytical errors external to the laboratory and the reports would be in agreement with the clinical-pathological situation of the patient.
Keywords
Laboratory; patient; examen orientation
REFERÊNCIAS
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