Monitoramento microbiológico do epitélio cérvico-vaginal em atipias celulares
Microbiological monitoring of the cervicovaginal epithelium in cellular atypias
Pedro Agnel Dias Miranda Neto1
Valdelice Oliveira Burgos2
1Biomédico. Analista em Saúde. Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco – LACEN-PE, Recife, Brasil.
2Doutora em Parasitologia – Universidade Federal do Piauí – UFPI – Parnaíba, PI, Brasil.
Instituição: Universidade Federal do Piauí – UFPI – Parnaíba, PI, Brasil.
Artigo recebido em 10/04/2014
Artigo aprovado em 21/11/2016
DOI: 10.21877/2448-3877.201600270
Resumo
Objetivo: Para se avaliar a microbiologia apresentada no epitélio vaginal e a atipia celular, realizou-se um levantamento descritivo retrospectivo de exames preventivos citopatológicos de mulheres de Parnaíba, no Piauí, entre 20 e 60 anos, no período de 2006 a 2011. Métodos: Foram avaliados prontuários de exames de Papanicolaou com alterações citopatológicas, sendo observados os seguintes microrganismos: bacilos, Candida sp., Chlamydia sp., cocos, Gardnerella/Mobiluncus, Lactobacillus sp. e Trichomonas vaginalis, como também o papilomavírus humano, que se apresentou com maior prevalência, e a Chlamydia com menor prevalência. Resultados: Com esta pesquisa, nota-se a necessidade de um programa de Saúde Pública com estudos adicionais que avaliem a microbiota cervical quando esta estiver alterada. Conclusão: Considerando o pequeno número de mulheres apresentadas na pesquisa, em relação à população que realizou o exame, faz-se indispensável a sensibilização destas na cidade de Parnaíba, PI, para que venham a realizar o exame preventivo tão breve quanto possível.
Palavras-chave
Biologia celular; Microbiologia; Neoplasias
introdução
O exame de Papanicolaou ou citológico é o método consagrado para detecção de infecções e lesões neoplásicas do colo do útero, é seguro e efetivo, de baixo custo, e durante sua realização é possível observar características clínicas da paciente, como corrimento vaginal e odor; a secreção vaginal é examinada microscopicamente para se observar a morfologia celular da mucosa do colo uterino e se há presença ou ausência de microrganismos e de sinais inflamatórios.(1,2) Inclui também a avaliação de pacientes com características de infecção pelo papilomavírus humano (HPV).(3) Dessa forma, este exame se torna importante para a saúde pública para programas de rastreamento e detecção precoce de câncer de colo, tratando-se, assim, de um exame estabelecido como teste universal.(4)
O órgão reprodutor feminino está propício a diversas infecções, e essas infecções genitais são geralmente causados por protozoários, fungos, bactérias e vírus que causam aumento da secreção vaginal, irritação e prurido vulvar, e muitas vezes mau cheiro.(5) São três os principais tipos de vaginites infecciosas: vaginose bacteriana, candidíase e tricomoníase; a vaginose bacteriana é considerada, atualmente, a infecção vaginal de maior prevalência em mulheres de idade reprodutiva e sexualmente ativas; a candidíase e a tricomoníase, juntas, correspondem aproximadamente a 70% dos casos de infecções vaginais. A vaginose bacteriana ocorre em 35%-50% dos casos, enquanto que a candidíase ocorre em 20%-40% e a tricomoníase em 10%-30%.(6)
O equilíbrio vaginal saudável é conservado por influência mútua entre a microbiota vaginal normal, os produtos metabólicos dos microrganismos, estado hormonal e pela resposta imune do hospedeiro.(7) No sistema genital feminino, a microbiota normal é grandemente influenciada pelos hormônios sexuais. O mecanismo fisiológico de defesa mais importante são os Lactobacillus sp., que fazem parte da microbiota láctica (bacilos de Döderlein) constituintes da microbiota saudável, espécie bacteriana predominante no meio vaginal, que determina o pH ácido (3,8 a 4,5) e dificulta o crescimento de outros microrganismos; a presença destes microrganismos é benéfica para o hospedeiro, já que algumas espécies produzem o peróxido de hidrogênio (H2O2) e bacteriocinas, fatores que dificultam a proliferação de outros microrganismos. Na vagina também há presença de outras numerosas bactérias de diferentes espécies, que vivem em equilíbrio, e que por isso são consideradas comensais, podendo, em situações diversas se tornar patogênicas, como quando ocorre a alteração do pH.(7,8)
O objetivo do trabalho foi realizar um levantamento microbiológico nas atipias celulares do epitélio vaginal nos exames de Papanicolaou analisados, em mulheres entre 20 e 60 anos de idade, no período de 2006 a 2011 em Parnaíba, no Piauí.
MATERIAL E MÉTODOS
O método empregado para a presente pesquisa foi o levantamento descritivo retrospectivo de exames preventivos citopatológicos de mulheres do município de Parnaíba durante os anos de 2006 a 2011. O trabalho foi realizado com dados coletados em uma clínica de referência em ginecologia da cidade, ao qual são encaminhadas as lâminas citopatológicas vaginais de outras clínicas que atendem mulheres de diferentes faixas etárias. O material utilizado para o desenvolvimento da pesquisa científica foi provido pelos prontuários e, especificamente, foram analisados os dados dos esfregaços citopatológicos alterados de mulheres entre 20 e 60 anos, observando-se as atipias celulares presentes e a microbiologia representada.
Foram incluídos apenas os prontuários de mulheres adultas que residem em Parnaíba, independente do bairro onde têm domicílio, que apresentaram alguma atipia celular e dentro da faixa etária estudada (20 a 60 anos). E excluídos prontuários de mulheres menores que 20 anos de idade e com mais de 60 anos, e de mulheres residentes em outros municípios, até mesmos de outros estados, visto que a cidade de Parnaíba é referência para as cidades da região norte dos estados do Piauí e Maranhão.
Ética
O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI, em seus aspectos éticos e metodológicos, de acordo com as Diretrizes estabelecidas na Resolução 196/96 e complementares do Conselho Nacional de Saúde, com protocolo de número 0150.0.045.000-11.
RESULTADOS
Foram avaliados 379 prontuários de exame Papanicolaou que possuíam alguma alteração citopatológica (Tabela 1). Das alterações encontradas, a mais ocorrente foi a neoplasia intraepitelial cervical de grau I (NIC I), sendo ainda representadas, no decorrer do estudo, a NIC II e a NIC III, e casos com significado indeterminado (Sig. indeterminado), como também microinvasões, adenocarcinoma in situ e carcinoma epidermoide invasor (CEI).