Acidentes de trabalho com material biológico no setor hospitalar

Accidents at work with biological material sector in hospital

 

Ricélli Francy Cardoso da Luz1    

Ana Laura Remédio Zeni Beretta2

 

 

1Graduada em Ciências Biológicas pela Faculdade Integrada Maria Imaculada – Aluna do Curso de Especialização em Análises Clínicas –  Mogi-Guaçu, SP, Brasil.

2Docente do programa de Mestrado em Ciências Biomédicas – Centro Universitário Hermínio Ometto – Uniararas – Araras, SP, Brasil.

 

Instituição: Fundação Hermínio Ometto – Araras, SP, Brasil.

 

Artigo recebido em 24/11/2012

Artigo aprovado em 29/01/2016

 

Resumo

Profissionais da saúde, principalmente em ambiente hospitalar, estão potencialmente expostos a ampla variedade de doenças. Estudos sobre o tema tornam-se relevantes no setor de biossegurança hospitalar. Tradicionalmente, os riscos ocupacionais presentes nessa ambiência são classificados em: agentes físicos, agentes químicos, agentes biológicos e organização do trabalho. Contudo, escolher um tema tão crítico igual a esse tem sua importância na área da saúde, pois inspira de uma maneira geral mais cuidados, mais cobranças em relação ao cumprimento de normas estabelecidas pela vigilância sanitária. Para evitar o risco de exposição ao material biológico, todo profissional deve ter à sua disposição equipamentos de proteção individual (EPIs), cuja finalidade é neutralizar a ação de certos acidentes. No Brasil, a escassez de dados sistematizados sobre esses acidentes não nos permite conhecer a magnitude global do problema, dificultando, assim, a avaliação das medidas preventivas utilizadas atualmente. Com base no exposto, este estudo, por meio de revisão literária, verificou a frequência de acidentes de trabalho com material biológico no hospital. Vários estudos mostram a ocorrência de acidentes com material biológico nos profissionais e o risco associado de desenvolvimento de doenças infecciosas, como hepatite B, C e AIDS.

 

 

Palavras-chave

Acidentes de trabalho; Política de Saúde do Trabalhador; Saúde do trabalhador; Resíduos sólidos; Resíduos químicos; Resíduos perigosos

 

 

INTRODUÇÃO

 

De acordo com o Ministério da Previdência Social, acidente do trabalho é aquele decorrente do exercício do trabalho a serviço da empresa ou do exercício do trabalho dos segurados especiais, podendo ocasionar lesão corporal ou distúrbio funcional, permanente ou temporário, morte e a perda ou a redução da capacidade para o trabalho.(1)

O trabalho no setor saúde é executado em locais onde existe constante exposição a fatores de risco de diversas ordens, que prejudicam aqueles que ali exercem atividades laborais. Entre os muitos agravos que acometem a saúde dos profissionais deste setor, destacamos os Acidentes de Trabalho (AT), que sobrevêm de maneira abrupta ou insidiosa no corpo dos trabalhadores, em decorrência do desgaste sofrido e provocado pela exposição às cargas de trabalho existentes nos processos de traba­lho dos serviços de saúde.(2-4)

Dentre os riscos com materiais biológicos podemos destacar as doenças infecto-contagiosas como as princi­pais fontes de transmissão de microrganismos para os profissionais.(5)

Outra importante fonte de contaminação refere-se ao contato direto com fluidos corpóreos durante a reali­zação de procedimentos invasivos, ou pela mani­pulação de artigos, lixo e até mesmo as superfícies conta­mi­nadas, sem que medidas de biossegurança sejam utili­zadas.6,7

Pode-se também ressaltar o fortalecimento de medidas de contenção biológica de microrganismos nas superfícies e artigos hospitalares por meio de adequado processamento que envolve a limpeza/desinfecção e/ou esterilização quando indicado. Nos últimos anos, desta­caram-se os riscos envolvidos na manipulação de resíduos sólidos (lixo), de produtos químicos (desinfetantes) e as preocupações com riscos físicos e ergonômicos através de legislação específica. A legislação estabelecida pela Lei Federal 6.4318 e mantida através da Portaria MS Nº2616/989 determina que a CCIH é responsável pela implementação da política de prevenção e controle de agravos infecciosos à saúde de pacientes e profissionais no ambiente hospitalar.(8-11)

O problema dos AT com exposição a material biológico entre trabalhadores de saúde é uma preocupação mundial. A gravidade do problema entre trabalhadores americanos levou os Estados Unidos da América à formulação de lei que torna obrigatória a adoção de medi­das preventivas à exposição aos riscos biológicos nas instituições de saúde. No Brasil, foi instituída, em 2005, uma Norma Regulamentadora, a NR-32,(5) que esta­belece as diretrizes básicas para a aplicação de medi­das de proteção à segurança e à saúde dos traba­lhadores dos serviços de saúde, com a finalidade de melhorar as condi­ções laborais nesses setores e mini­mizar os vários pro­blemas ocupacionais existentes.

Os profissionais que lidam, direta ou indiretamente, com a saúde dos pacientes preocupam-se muito com a assistência oferecida aos usuários, priorizando o seu conforto e bem-estar, e pouco com os riscos inerentes à execução de suas atividades, que podem ser ampliados segundo a diversificação dos processos e organização do trabalho e pela especialidade da assistência. Esses trabalhadores podem sofrer alterações de saúde oriundas da presença da diversidade de agentes e do tempo e da intensidade do contato entre eles e os agentes.(12)

O presente estudo teve o objetivo de informar e orientar os riscos que os profissionais da área de saúde correm dentro de um ambiente hospitalar manuseando materiais biológicos. Além disso, o tema torna-se relevante pois auxilia em uma melhor capacitação e monitoramento sobre os riscos diários aos quais os demais profissionais estão sujeitos a adquirir no decorrer do trabalho.

Aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Hermínio Ometto, com o número de protocolo 390/2012, o estudo fez uma revisão bibliográfica, cuja busca por materiais referentes ao tema abordado está baseada em artigos, revistas e dados eletrônicos como SciELO, LILACS e demais sites que abrangem o referido assunto.

 

DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Conforme verificado na literatura, a subnotificação dos acidentes de trabalho na área hospitalar é muito preo­cupante. Segundo Napoleão et al.,(13) esta é decor­rente principalmente da avaliação do profissional de que a situação ou lesão ocorrida não é de risco. No entanto, outras causas, tais como o desconhecimento da obrigato­riedade da notificação do acidente, a falta de tempo devido ao excessivo ritmo de trabalho ou, até mesmo, o medo de demissão, são citadas entre os profissionais aciden­tados.(14)

Neste estudo, levanta-se também a possível influ­ência da ausência de uma sede fixa da comissão para registro das ocorrências. A partir dos dados obtidos, é possível constatar que há  uma grande luta contra os riscos ocasionados por material biológico no setor hospitalar e que vale ressaltar a importância do uso de EPIs para o controle de infecções, cuja fiscalização do uso desses equipamentos será de responsabilidade dos profissionais da saúde do setor da CCIH. É importante dizer que a saúde dos profissionais do setor hospitalar e, até mesmo, dos pacientes está sempre em primeiro plano, evitando assim problemas futuros.

Considerando os diversos agentes aos quais os profissionais de saúde estão expostos e as suas reper­cussões na saúde dos trabalhadores e na organi­zação, percebe-se a relevância de um sistema que prio­rize os trabalhadores destes ambientes. A implan­tação de um Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupa­cional auxilia no reconhecimento e análise dos riscos ocupa­cionais nestes ambientes, com o objetivo de evitar ou minimizar a ocorrência de acidentes de trabalho, gerenciá-los, embasar as tomadas de decisões, as medidas de controle e de prevenção, e a promoção da cons­cien­tização sobre práticas seguras entre os profissionais.

 

Abstract

Health professionals, mainly in hospitals, are potentially exposed to the wide variety of diseases. Studies on the theme make it relevant in the bio sector. Traditionally, the occupational hazards present in this environment are classified into: physical agents, chemical agents, biological agents and organization of work. However choosing a theme so critical of this has its importance in the area of health, because it inspires in general more care, more charge in relation to compliance with standards set by the health surveillance. To avoid the risk of exposure to biological material all professional must have at their disposal personal protective equipment (Ppe), whose purpose is to neutralize the action of certain accidents. In Brazil, the paucity of systematic data on such accidents does not allow us to meet the global magnitude of the problem, thus making the evaluation of preventive measures used today. n the basis of the above, this study through the literary review, the frequency of accidents with biological material at the hospital. Several studies showing the occurrence of accidents with biological material in the professionals and the associated risk of developing infectious diseases such as hepatitis B, C and HIV/AIDS.

 

Keywords

Containment of biohazards; Biological accidents and events; Accidents, occupational; Chemical waste; Solid waste; Hazardous waste

 

 

Referências

  1. 1. Brasil. Ministério da Previdência Social. Anuário estatístico da Previdência Social 2007. Brasília, 2007. Disponível em: www. previdencia. gov.br/page/9/?s=anuário+estatístico. Acesso em: 05 mar. 2008.
  2. Belei RA, et al. O impacto do acidente com material biológico na vida de profissionais e alunos de um hospital universitário. Espaço para Saúde. 2001;2(2). Disponível em: http://www.ccs.uel.br/espaço parasaude/v2n2/doc/ acidente.doc.htm. Acesso em: 25 de Junho de 2012.
  3. Cavalcante CAA, Enders BC, Menezes RM, Medeiros SM. Riscos ocupacionais do trabalho em enfermagem: uma análise contextual. Cienc. Cuid. Saúde. 2006;5(1).Disponível em: http://eduem.uem.br/ojs/index.php/ CiencCuidSaude/article/view/5144. Acesso em: 25 de Junho de 2012.
  4. Damasceno AP, Pereira MS, Silva e Souza AC, Tipple AFV, Prado MA. Acidentes ocupacionais com material biológico: a percepção do profissional acidentado. Rev Bras Enfermagem. 2006;59(1): 72-7.
  5. Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. Brasília. 2005.
  6. Marziale MHP, Nishimura KYN, Ferreira MM. Riscos de conta­minação ocasionados por acidentes de trabalho com material pérfuro-cortante entre traba­lhadores de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004;12(1):36-42.
  7. Scheidt KLS, Rosa LRS, Lima EFA. As ações de biossegurança implementadas pelas comissões de controle de infecções hospitalares. Rev. Enfermagem UERJ. 2006;14(3):372-7.
  8. Florêncio VB, Rodrigues CA, Pereira MS, Souza ACS. Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros de Goiás. Rev Eletrônica Enferm. 2003;5(1). Disponivel em: http://www.fen.ufg.br/revista/re vista5_1/adesao.html
  9. Fonseca AG, Bessa AB, Rêgo JRG, João Inácio Batista Lopes JIB, Brito TNS. Avaliação de métodos de controle de qualidade e biossegurança aos técnicos em laboratórios de Análises Clínicas da rede pública no munícipio de Natal. Ciências da Saúde. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/62ra/resumos/resumos/2057.htm
  10. Tipple AVF, Aguliari HT, Souza ACS, Pereira MS, Mendonça ACC, Silveira C. Equipamentos de proteção em centros de material e esterilização: disponibilidade, uso e fatores interve­nientes à adesão. Cienc. Cuid. Saúde. 2007, Out/Dez;6(4):441-8.
  11. Vieira M, Padilha MICS. O HIV e o trabalhador de enfermagem frente ao acidente com material perfurocortante. Rev. Esc. Enfermagem USP. 2008;42(4):804-10.
  12. Rapparini C, Saraceni V, Lauria LM, Barroso PF, Vellozo V, Cruz M, et al. Occupational exposures to bloodborne pathogens among healthcare workers in Rio de Janeiro, Brazil. J Hosp Infect. 2007 Feb;65(2):131-7.
  13. Napoleão AA, Robazzi MLCC, Marziale MHP, Hayashida M. Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [internet]. 2000; 8(3):119- 20. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0104-11692000000300018&lng = pt&nrm=iso&tlng=pt
  14. Marziale MHP, et al. Projeto de pesquisa. Rede de Prevenção de Acidentes de Trabalho com Material Biológico em Hospitais do Brasil (REPAT), Ribeirão Preto. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/1005/ 100515514010.pdf. Acesso em: 25 Junho 2012.

 

Correspondência

Ricélli Francy Cardoso da Luz

Av. Dr. Maximiliano Baruto 500

13607-339 – Araras, SP, Brasil