Relação entre enteroparasitoses e alterações hematológicas em crianças da região centro-oeste do Paraná

Relationship between enteroparasitosis and hematological changes in children in midwest of Paraná

 

Artur Mariot Netto1

Maria Goreth de Souza Brito2

Mariana Felgueira Pavanelli3

 

 

1Faculdade Integrado de Campo Mourão – Campo Mourão, PR, Brasil.

2Farmacêutica. Faculdade Integrado de Campo Mourão – Campo Mourão, PR, Brasil.

3Professora T40, Mestre. Faculdade Integrado de Campo Mourão Campo Mourão, PR, Brasil.

 

Instituição: Faculdade Integrado de Campo Mourão Campo Mourão, PR, Brasil.

 

Artigo recebido em 14/12/2012

Artigo aprovado em 05/10/2015

 

 

Resumo

Objetivo: Determinar a prevalência de enteroparasitoses, possíveis fatores de risco para esta infecção bem como sua relação com alterações hematológicas em crianças de uma escola pública do município de Peabiru, PR. Métodos: Foram realizados exames coproparasitológicos em 67 crianças e hemograma e dosagens de ferro, vitamina B12 e ácido fólico nas crianças que apresentaram diagnóstico positivo para enteroparasitoses e tiveram autorização concedida pelos pais ou responsáveis para a participação na pesquisa. Resultados: A prevalência de enteroparasitoses foi de 16,4%, e as crianças avaliadas não apresentaram nenhum tipo de anemia, somente alterações do tipo leucocitose e eosinofilia. Conclusão: Ações de educação em saúde devem ser mantidas para se evitarem reinfecções ou transmissões das enteroparasitoses.

 

Palavras-chave

Doenças parasitárias; Doenças hematológicas; Anemias nutricionais

 

 

INTRODUÇÃO

 

As enteroparasitoses apresentam um grave problema de saúde pública no Brasil, bem como em outros países em desenvolvimento, gerando consequências econômicas e sociais.(1) Os parasitas intestinais estão entre os pató­genos mais frequentemente encontrados nos seres huma­nos, porém a investigação parasitológica ainda é negli­genciada no Brasil.(2)

As infecções parasitárias intestinais são comuns na infância, principalmente em crianças de classes socio­econômicas baixas, em função da falta de saneamento básico e de conhecimento acerca dos hábitos de higiene adequados, manuseio incorreto de alimentos, além do grande período de permanência nas creches e escolas, onde ocorre, na maioria das vezes, o primeiro contato com os enteroparasitas.(3) A transmissão das enteroparasitoses ocorre através da via fecal-oral direta ou indiretamente, por meio da ingestão de água e alimentos contaminados.(4)

Os enteroparasitas podem trazer desconfortos e prejuízos ao hospedeiro, como sintomas de diarreia, dores abdominais, perda de sangue nas fezes, emagrecimento, alterações de humor, ansiedade, agitação e até mesmo propiciar o desenvolvimento de anemias.(5) Nas crianças parasitadas podem ser observadas algumas alterações como atraso no crescimento e desenvolvimento motor, rendimento prejudicado nas atividades escolares e déficit imunitário, prejudicando a homeostase.(6)

As infecções parasitárias intestinais mais comuns são causadas pelos helmintos Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e ancilostomídeos, além do protozoário Giardia lamblia. Tais parasitos alteram o estado nutricional do hospedeiro, afetando principalmente a digestão e absor­ção dos nutrientes.(4) Estas alterações na absorção de nutrientes podem levar ao desenvolvimento de anemias, as quais são diagnosticadas através da diminuição na con­centração de hemoglobina, dado este visualizado no hemograma do paciente.(7)

Alguns fatores podem influenciar o surgimento das anemias carenciais, como idade, sexo, dieta pobre em nutrientes necessários para a formação da hemoglobina e certos enteroparasitas, que são responsáveis pela dimi­nuição na absorção de até 20% do ferro adquirido através da alimentação.(7) Muitos parasitos intestinais possuem ação espoliativa, absorvem os nutrientes do hospedeiro e consomem o oxigênio da hemoglobina. O parasito adulto ainda pode se fixar à parede intestinal do hospedeiro, irritando o local, fazendo com que o hospedeiro perca sangue nas fezes.(5)

Os sinais clínicos comuns ao surgimento de anemias são: taquicardia, em função ao aumento do esforço cardíaco para compensar o nível de oxigênio aos tecidos, déficit de crescimento, vertigem, cansaço ao menor esforço, fraqueza, sonolência, cefaleia e diminuição do raciocínio, fatores que comprometem o aprendizado escolar em crianças acometidas.(7)

O diagnóstico precoce das enteroparasitoses é importante devido aos danos causados ao hospedeiro, os quais podem ser evitados por exames copro­para­sito­lógicos. Quando as enteroparasitoses são diagnos­ticadas preco­cemente, o tratamento medicamentoso se torna mais eficaz, evitando a evolução do parasito, elimi­nando assim as possibilidades de surgimento de compli­cações, como as anemias.(8) Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi deter­minar a prevalência de enteroparasitoses, possíveis fatores de risco para esta infecção bem como sua relação com alterações hematológicas em crianças de uma escola pública do município de Peabiru, Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS

 

O município de Peabiru fica localizado na região centro-oeste do Paraná, mais especificamente na região da COMCAM (Comunidade dos Municípios da região de Campo Mourão) e possui 14.144 habitantes.(9) O presente estudo foi realizado na Escola Municipal São José, a qual possuía 263 alunos matriculados do 1° ao 5° ano do ensino fundamental.

Foi realizada uma reunião com a diretora da escola e os pais ou responsáveis dos alunos, onde se explicaram os objetivos, importância da pesquisa e procedimento da coleta das amostras. Foram distribuídos aos pais e responsáveis os frascos para coleta das fezes, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um questionário socioepidemiológico. Tal questionário abordou as seguin­tes variáveis: endereço, gênero e idade da criança, contato com terra e animais, hábito de roer unhas, local de residência (área urbana ou rural), consumo de água filtrada e condições sanitárias (tratamento de água e esgoto).

Aqueles pais que concordaram em participar da pesquisa coletaram amostras de fezes das crianças e as encaminharam até a escola, onde foram mantidas sob refrigeração até serem transportadas ao laboratório. As amostras fecais corretamente identificadas das crianças autorizadas foram analisadas parasitologicamente por meio das técnicas de sedimentação espontânea,(10) centrífugo-flutuação(11) e a técnica de Baermann-Moraes,(12) que se baseia no hidro e termotropismo de larvas de helmintos. As lâminas confeccionadas foram visualizadas em micros­cópio óptico sob aumento de 100 X e 400 X.

As crianças que apresentaram diagnóstico positivo para enteroparasitoses receberam um comunicado convo­cando os pais ou responsáveis para uma reunião, onde foram esclarecidos os malefícios que os parasitos ofere­cem às crianças, dentre eles o surgimento de mani­festações secundárias, como as anemias carenciais.

Nas crianças que tiveram autorização dos pais ou responsáveis, realizou-se a coleta de 5 mL de sangue periférico, em tubos com EDTA, para hemograma com­pleto, e sem anticoagulante para as dosagens de ferro, ácido fólico e vitamina B12.

O hemograma foi realizado utilizando-se o contador eletrônico de células Sysmex (Roche®), que determina a contagem de Hemácias (milhões/mm3), dosagem de Hemoglobina (g/dL), Hematócrito (%), Volume Corpuscular Médio – VCM (µ³), Hemoglobina Corpuscular Média – HCM (pg), Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média – CHCM (g/dL), Índice de Anisocitose – RDW (%), Contagem Total de Leucócitos (mm3) e de Plaquetas (mil/mm3). A contagem diferencial de leucócitos foi reali­zada por meio da leitura em microscópio óptico (1000 X) da extensão sanguínea. A dosagem sérica de ferro (µg/dL) foi realizada através do pelo método colorimétrico utilizando o equipamento Selectra E (Vitalab®). As dosagens de vitamina B12 e ácido fólico foram realizadas por meio da técnica de quimioluminescência. Todos os exames labora­toriais foram realizados em um laboratório de análises clínicas do município de Campo Mourão, PR.

Para análise estatística foram aplicados os testes do qui-quadrado (c2) e odds ratio para investigar os possíveis fatores de risco relacionados à presença de enteroparasitoses. O cálculo do odds ratio, respectivos intervalos de confiança de 95% e valores de “p” foram realizados com auxílio do programa Epi Info. O teste do qui-quadrado (c2) foi realizado por meio do software Microsoft Excel 2007.

O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética para Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade Integrado de Campo Mourão, PR, conforme o Certificado de Apresentação e Apreciação Ética (CAAE) nº 04589612.1. 0000.0092.

 

 

 

RESULTADOS

 

Participaram da pesquisa 67 crianças com idade entre 2 e 12 anos; destas, 11 (16,4%) apresentaram positividade aos seguintes protozoários parasitos: Giardia lamblia, Entamoeba coli, Iodamoeba butschlii e Endolimax nana. Houve dois casos de infecção mista envolvendo Entamoeba coli e Iodamoeba butschlii e Giardia lamblia e Entamoeba coli. Não foram identificados helmintos nas amostras analisadas. As frequências de cada enteroparasito encontram-se na Figura 1.

 

Imagem 14.1

 

Figura 1. Frequência dos enteroparasitos encontrados nas crianças de uma escola municipal de Peabiru, PR.

 

 

A distribuição dos investigados quanto ao gênero foi praticamente homogênea: 50,7% pertenciam ao gênero feminino e 49,3% ao gênero masculino. Foi observada maior contaminação nas meninas (63,6%) em relação aos meninos (36,4%).

Para avaliação por idade, as crianças foram classi­ficadas em diferentes estratos, os quais foram relacio­nados à presença dos parasitos intestinais. A faixa etária com maior prevalência de enteroparasitoses foi de 6 a 9 anos (72,7%), precedida de 2 a 5 anos (18,2%) e 10 a 12 anos (9,1%).

Algumas variáveis epidemiológicas foram relacio­nadas à presença de enteroparasitoses nas crianças investigadas; os resultados encontram-se expressos na Tabela 1. Quando comparadas as variáveis, por meio do teste do qui-quadrado, não foram encontradas associa­ções significativas, sendo, talvez, este fato consequência do pequeno número de amostras.

 

Imagem 14.2

 

A análise dos fatores de risco envolvidos no surgi­mento das enteroparasitoses nas crianças investi­gadas encontrou associação significativa em alguns casos, os quais estão descritos na Tabela 2.

Notou-se que uma pequena parte dos pais das crianças contaminadas não possuía ensino funda­mental completo (18,2%), sendo que a maior parte possuía apenas ensino fundamental completo (72,7%). Este dado mostrou ser um fator de risco, informação que pode ser confirmada com o valor do odds ratio obtido (12,2), o que prova que filhos de pais sem estudos estão mais expostos a desenvolver enteroparasitoses.

 

Imagem 14.3

Todas as crianças parasitadas possuíam em suas residências animais de estimação. O hábito de brincar na terra também está presente em todas as crianças investi­gadas, ressaltando que 54,4% destas roem unhas. Este hábito foi identificado como fator de risco para o desenvol­vimento de enteroparasitoses, entretanto o p-valor encon­tra-se acima do esperado, em função do pequeno número de investigados. Todas as crianças portadoras de entero­parasitoses não consomem água filtrada, somente clora­da.

Das crianças portadoras de enteroparasitoses, 81,8% foram provenientes da zona urbana e 18,2% da zona rural. Entretanto, ao se compararem isoladamente os valores nota-se que, das 63 crianças que vivem na zona urbana, nove (14,3%) estavam contaminadas, e, das quatro crianças que vivem na zona rural, duas (50%) estavam contaminadas. Entretanto, em função deste número limitado não é prudente estabelecer uma relação entre a área de moradia e as infecções parasitárias.

Dentre as 11 crianças parasitadas, uma não compa­receu no dia da coleta de sangue, sendo a análise hema­tológica realizada em dez crianças. As crianças avaliadas não apresentaram nenhum tipo de anemia, por conter nível de hemoglobina acima dos parâmetros da normalidade, 11,5 g/dL, preconizado pela Organização Mundial de Saúde.(13)

Ao se observarem as médias dos parâmetros hema­tológicos dos hemogramas e dosagem de Ferro Sérico, Vitamina B12 e Ácido fólico verificou-se que não houve alterações em nenhum dos parâmetros observados (Tabela 3). Portanto, pode-se afirmar que as crianças investigadas não são portadoras de anemias carenciais.

Uma criança apresentou eosinofilia e a mesma encontrava-se parasitada por Giardia lamblia. Outra apre­sentou leucocitose, estando parasitada por Entamoeba coli, um parasito classificado como não patogênico; ainda assim, sua presença gerou uma reação inflamatória, responsável pela leucocitose observada.

 

Imagem 14.4

 

DISCUSSÃO

 

Diversas pesquisas parasitológicas com alunos de escolas públicas já foram realizadas no Brasil. No presente estudo, a frequência de enteroparasitoses nas crianças avaliadas foi relativamente baixa (16,4%). Boeira et al.(14) encontraram na cidade de Cascavel, Paraná, uma ocorrên­cia de 36,8% de enteroparasitoses em crianças. Já Osaki et al.,(15) em uma creche de Guarapuava, Paraná, consta­taram que 31,7% das crianças estavam parasitadas. Na mesma cidade relatou-se que 75,3% das crianças de sete comunidades escolas estavam contaminadas por algum enteroparasito.(15) Em Campo Florido, no estado de Minas Gerais, a frequência observada em escolares foi de 59,7%.(16)

O percentual de resultados negativos (83,6%) é muito satisfatório, entretanto este número pode não ser total­mente confiável, pois o diagnóstico pode variar de acordo com o ciclo reprodutivo dos parasitas, já que a coleta foi realizada somente em um dia ao acaso.(17) A baixa taxa de positividade não descarta as necessidades de adoção de medidas profiláticas pela comunidade.(1)

Segundo Macedo,(18) a presença dos protozoários intestinais não patogênicos Entamoeba coli e Endolimax nana não constitui agravo à saúde. Entretanto, como apresentam a mesma via de transmissão de outros ente­roparasitos, sua presença nas amostras fecais representa que estas crianças se encontram em condições propícias para uma infecção por um proto­zoário entérico patogênico como Entamoeba histolytica ou Giardia lamblia. Diante do exposto, nota-se que as crianças investigadas vivem em condições higiênico-sanitárias precárias, pois a trans­missão destes micro-organismos, na maioria das vezes, ocorre por alimentos e/ou água contaminados.(19)

Na cidade de Cascavel, Paraná, Boeira et al.(14) encontraram Endolimax nana como principal protozoário nas amostras analisadas, seguido de Balantidium coli. Em estudo realizado com escolares do município de Campo Florido, Minas Gerais,(16) o parasito encontrado com maior frequência nas amostras analisadas foi Giardia lamblia (30,5%), da mesma forma como o obtido na presente pesquisa. Giardia lamblia é a causa mais comum de diarreia em crianças e sua presença pode estar direta-mente relacionada aos hábitos de higiene pessoal.(20)

Em um levantamento parasitológico com crianças da rede pública do município de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, 57,2% das meninas encontravam-se para­sitadas, dado este similar ao encontrado neste trabalho.(21) Entretanto, em um estudo envolvendo crianças de 4 a 12 anos de uma creche de Anápolis, Goiás, observou-se maior contaminação nas crianças do gênero masculino (54,9%).(22) No inquérito parasitológico realizado em escolas da rede pública municipal de Paracatu, Minas Gerais, a maior prevalência foi registrada na faixa etária de 8 a 9 anos.(18)

Programas de controle e educação para a melhoria de qualidade de vida destas pessoas devem ser incen­tivados, uma vez que a falta de informação associada à falta de estudos pode estar relacionada com a predis­posição para a infecção por parasitas intestinais.(2) Esta informação reforça o achado de que a falta de estudos representa um fator de risco para o surgimento das infec­ções parasitárias.

Figueiredo e Querol(23) ressaltam que o parasitismo intestinal de animais domésticos, como cães e gatos, tem grande importância na saúde pública, pois muitos destes parasitos apresentam potencial zoonótico. Segun­do Zaiden et al.,(17) os cuidados pessoais como lavar as mãos e cortar as unhas são medidas básicas e neces­sárias para uma boa saúde, pois evitam a conta­minação e transmissão de parasitos entre crianças.

Além disso, a água pode ser uma fonte de conta­minação, representando um fator de risco caso não possua condições ótimas de qualidade.(24) Esta informação con­firma os achados de risco de infecção da presente pes­quisa.

Em estudo realizado com crianças matriculadas em creches e escolas municipais foram encontrados 48,1% de contaminação nos escolares da área rural de Rolândia, Paraná,(25) e 21,9% nas crianças de Bambuí, Minas Gerais.(26)

Poucos trabalhos atuais têm relacionado a presença das enteroparasitoses às anemias carenciais. Na década de 80, Monteiro, Szarfarca e Mondinib(27) encontraram crianças anêmicas após um estudo no município de São Paulo e observaram que a origem das anemias era por carência nutricional, não havendo correlação com as parasitoses intestinais diagnosticadas. Neste mesmo período, Hercberg et al.,(28) ao trabalharem com 586 pessoas de uma aldeia rural de um distrito sul-africano, não encontraram associações significativas entre anemia e parasitoses intestinais.

Conforme pesquisa realizada por Tsuyuoka et al.(29) com 360 alunos de uma escola de ensino fundamental de Aracaju (SE), observou-se que não há indícios que comprovem a relação de enteroparasitoses com anemias, porém as crianças parasitadas apresentavam estados nutricionais mais debilitados quando comparadas às saudáveis.(29)

Em 2005, Pezzi et al.(30) também não encontraram relação entre parasitoses e anemias quando avaliaram 92 crianças de 4 a 14 anos de uma escola pública do município de Caxias do Sul (RS). Todos os trabalhos expostos corroboram com o obtido na presente pesquisa.

Já Silva et al.,(6) ao investigarem 181 crianças com idades entre 5 e 12 anos, relataram casos de anemias carenciais devido à presença de parasitos intestinais, principalmente Giardia lamblia. Analisando os índices hematimétricos e a dosagem de ferro, as anemias foram classificadas como ferropriva, anemia carencial mais comum na infância.

Os resultados obtidos na presente pesquisa podem ser justificados pelo fato de que a escola estudada oferece às crianças educação em tempo integral, seis alimen­tações diárias, acompanhadas de frutas, leguminosas, carnes e carboidratos. A mesma conta com o apoio finan­ceiro de uma instituição italiana da igreja católica e faz parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar, o qual realiza uma suplementação na alimentação diária dos alunos. Além disso, possui profissionais da saúde em seu quadro de funcionários, como uma nutricionista, que monta um cardápio diário, visando, dentro das possi­bilidades e disponibilidade dos alimentos, fornecer uma alimentação saudável e rica em nutrientes; psicólogo, assistente social e técnico em enfermagem. Um padre acompanha, junto com a diretora, o anda­mento das ativi­dades escolares e o desempenho das crianças.

Eosinofilia, independente da fisiopatologia, repre­senta o aumento plasmático de eosinófilos. Estes são leucócitos, granulócitos presentes no sangue em peque­nas quanti­dades (cerca de 3%), com capacidade de fago­citar células bacterianas e demais agentes infec­ciosos que aparecerem no organismo. Sua principal função é a exocitose, liberação da PBM (proteína básica maior), que é tóxica para os parasitos, resultando na morte dos mesmos.(31)

Uma triagem parasitológica envolvendo 1.598 crian­ças de 0 a 10 anos de Goiânia, GO identificou Giardia lamblia em 59,4% das amostras analisadas. As crianças também apresentaram eosinofilia, da mesma forma como a presente pesquisa, confirmando-se a hipótese da relação entre giardíase e eosinofilia.(31)

Autores correlacionam a giardíase com a eosinofilia, já que este protozoário causa hipersensibibilidade no local em que se aloja, desencadeando um processo inflamatório no qual ocorre a produção das imunoglobulinas (Ig) A e E. Estas, por sua vez, promovem a ativação de células efetoras, os eosinófilos, que identificam o corpo estranho e estimulam o processo de citotoxicidade, na qual os anticorpos eliminam o patógeno.(31)

A leucocitose é caracterizada pelo aumento dos leucócitos totais, acima de 11.600/mm³, não é uma pato­logia, mas sim uma resposta do organismo frente a situ­ações como estresse fisiológico, falta de alimentação, esforço físico prolongado, processos inflamatórios, doen­ças metabólicas e infecções microbianas. Como os para­sitos entéricos são patogênicos ao hospedeiro, estes micro-organismos fazem parte da classe de agentes esti­muladores da reação inflamatória, a qual culmina na eleva­ção dos leucócitos circulantes.(32)

 

CONCLUSÕES

 

As crianças investigadas apresentaram baixa preva­lência de enteroparasitoses e nenhum tipo de anemia nutricional. A falta de estudos dos pais é um fator que contribui para o desenvolvimento das infecções para­sitárias. Devem ser mantidos os hábitos de higiene das crianças e de seus familiares, evitando assim reinfecções ou transmissões das enteroparasitoses. Todas as crianças participantes deste estudo receberam os laudos dos exames realizados para que, se necessário, pudessem ser submetidas à terapia medicamentosa.

 

Abstract

Objective: To determine the prevalence of intestinal parasites, possible risk factors for this infection and its relation with haematological disorders in children from a public school in the city of Peabiru, PR. Methods: Fecal examinations were performed in 67 children and blood count, dosage of serum iron, vitamin B12 and folic acid in children who were diagnosed positive for intestinal parasites and were granted permission by parents or guardians to participate in the research. Results: The prevalence of intestinal parasites was 16.4% and the studied children did not show any type of anemia, only leukocytosis and eosinophilia. Conclusion: Shares of health education should be keep to prevent reinfection or transmission of intestinal parasites.

 

Keywords

Parasitic diseases; Hematologic diseases; Nutritional anemias

 

Referências

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Correspondência

Mariana F. Pavanelli

Faculdade Integrado de Campo Mourão

Rodovia BR 158, KM 207

Campo Mourão, PR, Brasil