Prevalência de anemia microcítica hipocrômica em pacientes atendidos no Posto de Saúde da Vila Mutirão e assistidos pelo laboratório da PUC – Goiás, no período de agosto a outubro de 2018
Hypochromic microcytic anemia prevalence in patients attended at Vila Mutirão Health station and assisted by the PUC – Goiás laboratory from August to December, 2018
Aline Aparecida Araujo Castro1
Frank Sousa Castro1
1Graduanda. Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUCGO) – Goiânia-GO, Brasil
2Mestre. Professor/Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUCGO) – Goiânia-GO, Brasil.
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Goiás –Goiânia-GO, Brasil.
Conflito de interesses: não há conflito de interesses.
Recebido em 18/06/2019
Artigo aprovado em 08/08/2019
DOI: 10.21877/2448-3877.201900867
INTRODUÇÃO
A anemia é definida com uma concentração baixa de hemoglobina, esta é responsável pelo transporte de oxigênio para o corpo e para o cérebro. Redução da prevalência da anemia é uma meta global devido às consequências sociais e de saúde significativas a longo prazo. A anemia prejudica a capacidade física e o desempenho no trabalho em todas as faixas etárias,(1) e dentre os sintomas temos, como exemplo, a fadiga, que leva a um mal desempenho físico do paciente.(2,3,4)
Anemia é caracterizada por hemácias e hemoglobina no organismo abaixo dos seus valores referenciais. É uma situação que comumente abrange toda a população. Na série vermelha, a hemoglobina é avaliada pela sua dosagem, sendo que essa proteína possui quatro cadeias polipeptídicas e um anel heme que contém ferro na sua forma reduzida.(5)
A concentração de hemoglobina (Hb) é uma situação crítica para quadro de anemia, e as distribuições normais de Hb variam com a idade, sexo, estilo de vida, raça/etnia, status socioeconômico, diferença regional e outras causas.(6)
A anemia é mais frequente entre os idosos e a prevalência aumenta com o avanço da idade. Nessa população, a anemia ocorre devido à diminuição de atividade física, aumento da fragilidade corporal, das hospitalizações sucessivas, do comprometimento mental e aumento de distúrbios fisiológicos associados à idade.(7)
A alta prevalência de anemia é considerada um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento.(8) No mundo todo, a anemia atinge 1,62 bilhão de pessoas, o que é estipulado em cerca de 25% da população mundial,(9) e cerca de 10% dos doadores de sangue dessa população são excluídos devido à baixa hemoglobina na avaliação do prognóstico.(10,11,12)
A presença de hemácias com volume corpuscular médio (VCM) diminuído representa a redução da síntese de hemoglobina, resultando em várias causas. Pode ter como causa defeitos na captação ou disponibilidade de ferro para a hemoglobina, ou na síntese de heme. A anemia hipocrômica microcítica pode provir de um defeito nos genes da globina (hemoglobinopatias).(5)
A anemia microcítica e hipocrômica é um tipo de anemia em que as hemácias circulantes estão diminuídas no seu tamanho normal (microcítica) e têm uma coloração mais clara devido à diminuição do ferro na molécula de hemoglobina (hipocrômica).(13) Isso pode estar relacionado com a diminuição de ferro na dieta, má absorção de ferro do intestino, perda de sangue aguda e crônica, alta necessidade de ferro em determinadas situações, como gravidez ou recuperação de um grande trauma ou cirurgia.(14,15)
O ferro é um constituinte importante nos processos metabólicos envolvidos na oxigenação tecidual. O ser humano possui em média 3-5 gramas de ferro no sangue. Quando se tem uma dieta padrão pode-se absorver até 15 mg de ferro por dia. O intestino delgado é um ambiente ácido, o que ajuda na absorção de ferro. Portanto, a absorção é aumentada pelos compostos ácidos, como o ácido ascórbico. Quantidade excessiva de ferro é armazenada como ferritina, um fornecedor de ferro, e facilmente disponível.(16,17)
A causa mais frequente de anemia microcítica hipocrômica é a deficiência de ferro. Este é o problema nutricional mais comum em todo o mundo, alcançando um nível alto em países desenvolvidos. Deste modo, 50% dos casos são o resultado da pouca ingesta de ferro.(18)
Material e Métodos
O estudo foi do tipo transversal, realizado com levantamento de dados a partir de pacientes atendidos no posto de coleta da Vila Mutirão, localizado na cidade de Goiânia-GO, região noroeste, no período de agosto a outubro de 2018.
Foram analisados dados de 1.399 pacientes atendidos no Posto de coleta da Vila Mutirão do laboratório clínico da PUC-GO de ambos os sexos com idades de 1 a 98 anos, dos quais foram incluídos apenas dados que constavam em seu pedido médico (Hemograma), além de dados como idade e sexo. A avaliação hematológica foi realizada no equipamento Sysmex XE-2100D da seção de Hematologia do laboratório. Foram classificados pacientes portadores de anemia microcítica hipocrômica aqueles que apresentaram VCM e HCM abaixo do valor de referência 82,00 fL a 92,00 fL ; 27,00 pg a 34,00 pg respectivamente.
A coleta do material foi feita no período matutino, e o paciente não precisa necessariamente estar em jejum, quando em seu pedido médico consta apenas o exame de Hemograma. Foram utilizados tubos com anticoagulante EDTA (ácido etileno diamino tetra-acético), o qual é recomendado para rotinas de hematologia por ser o melhor anticoagulante para a preservação da morfologia celular, e adaptadores a vácuo.
Resultados
As concentrações de VCM e HCM dos pacientes foram mensuradas para todos os pacientes coletados. Os resultados obtidos foram divididos em quatro faixas etárias (1 a 10 anos; 11 a 20 anos; 21 a 60 anos; 61 a 98 anos).
Na faixa etária de 1 a 10 anos, resultou em 163 pacientes (98 sexo feminino e 65 sexo masculino). Em adolescentes, na faixa etária de 11 a 20 anos, resultou em 146 pacientes (101 sexo feminino e 45 sexo masculino). Em pacientes adultos com 21 a 60 anos, resultou em 823 pacientes (615 sexo feminino e 208 sexo masculino). E, por fim, na faixa etária de 61 a 98 anos, resultou em 267 pacientes (179 sexo feminino e 88 sexo masculino).
A Tabela 1 demonstra a média geral do VCM e HCM dos pacientes com idade de 1 a 98 anos de ambos os sexos.
A Tabela 2 classifica por faixa etária a porcentagem de VCM ou HCM diminuídos.
A Tabela 3 demonstra a porcentagem dos pacientes que possuem tanto o VCM quanto o HCM diminuídos de acordo com o valor de referência.
A causa mais frequente de anemia microcítica hipocrômica é a deficiência de ferro na dieta. Porém, outras causas de anemias hereditárias podem também causar esta condição.(8,19)
De fato, as anemias microcítica e hipocrômica com implicações hereditárias são importantes no sentido de se obterem conhecimentos relativos à antropologia e movimentos migratórios das populações, bem como contribuições para a saúde pública e para as políticas públicas de saúde.(20,21)
O diagnóstico diferencial das anemias microcíticas e hipocrômicas é clinicamente importante, uma vez que apresentam causas, tratamento e prognóstico diferentes. Atualmente, a comprovação diagnóstica de anemia microcítica hipocrômica é obtida pela realização de exames que avaliam o metabolismo do ferro, a eletroforese de hemoglobina e a dosagem de HbA2.(22)
O presente estudo confirma a alta prevalência de anemia microcítica hipocrômica em crianças de 1 a 10 anos de idade, com 50,7% em ambos os sexos. Essa prevalência pode estar relacionada ao fator fisiológico do crescimento. E também pode estar relacionada com as limitações da dieta, impostas pelo baixo poder aquisitivo das famílias e com a ingestão de alimentos pobres em ferro.(23)
De acordo com um estudo realizado por Leitão GM et al.,(23) a prevalência da anemia segundo a dosagem da hemoglobina sérica em crianças internadas, na faixa etária de 1 a 10 anos de idade, foi de 38,7%, sendo mais prevalente em crianças de 1 a 5 anos.
Na pesquisa publicada por Carvalho et al. (24) foi realizado um estudo em 754 hemogramas de crianças de 0 a 12 anos analisados junto à UPA do Patronato. Em 220 crianças foi constatado registro de anemia (hemoglobina inferior a 11g/dL), sendo 29,17% do total. Constata-se que não houve diferença significativa entre os gêneros (49,55% masculino e 50,45% feminino). Entre as crianças anêmicas, a faixa etária que predominou foi a de 0 – 2 anos (59,09%), seguida da faixa etária de 4 – 6 anos (25%). Também estão correlacionados os casos de anemia com o Volume Corpuscular Médio (VCM) apresentado em cada caso. A presença de microcitose predominou entre as crianças anêmicas (58,69%).
Em várias publicações demonstra-se que crianças até os 2 anos de idade são mais vulneráveis à anemia, sendo explicado pelo crescimento nessa faixa etária, pela alta prevalência de desmame precoce no país, pela falta de alimentos ricos em ferro na dieta da criança e pela maior prevalência de doenças como diarreia e infecções respiratórias nos primeiros anos de vida.(25)
No presente estudo avaliamos que 17,8% dos pacientes na faixa etária de 11 a 20 anos de idade apresentaram anemia microcítica hipocrômica. Os principais problemas nutricionais dos adolescentes são as deficiências de micronutrientes, em particular a deficiência de ferro e, dependendo do contexto, desnutrição ou obesidade e comorbidades.(26) Klinger et al. estudaram uma população de 1.013 crianças e adolescentes com idade de 7 a 14 anos em Salvador, BA, e detectaram uma prevalência de anemia de 24,5%.(27)
Em nosso estudo, também foi realizada uma pesquisa com indivíduos de 21 a 60 anos de idade, com anemia microcítica hipocrômica com prevalência de 11,8% em ambos os sexos. Sendo que em indivíduos idosos de 61 a 98 anos de idade, a anemia microcítica hipocrômica demonstrou uma prevalência de 7,1%, dados que se aproximam de Barbosa et al, que estudaram 284 idosos com uma prevalência de 9,1%.(28)
Conclusão
A anemia constitui um importante desafio de saúde nas crianças e adultos de várias faixas etárias, da população brasileira. Medidas devem ser tomadas em conjunto e monitoradas permanentemente para que se consiga êxito na prevenção e no controle da anemia nas atuais condições sociais e de desenvolvimento do País.
Ao observar os valores de Volume Corpuscular Médio (VCM) e Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) de quatro diferentes faixas etárias, o presente estudo nos demonstra que a prevalência de anemia microcítica hipocrômica em crianças com 1 a 10 anos de idade é elevada, o que torna evidente a necessidade de se concentrarem esforços em uma melhor alimentação.
Neste estudo observa-se que, mesmo não sendo possível alcançar um diagnóstico definitivo da anemia microcítica e hipocrômica baseando-se apenas em índices hematimétricos, esses simples cálculos podem ser úteis no rastreamento da doença pelo médico clínico.
Abstract
Objective: To evaluate the prevalence of hypochromic microcytic anemia in patients attending the Vila Mutirão clinic in the PUC-GO clinical laboratory from August to December, 2018. Methods: The study design was of a cross-sectional type based on a survey of data from individuals attended at the Vila Mutirão Post, located in the northwest region of Goiânia-GO, from August 2018 to October 2018. Results: A total of 1,399 patient samples were collected from the Vila Mutirão Post Office Goiânia-GO of both sexes and of different ages. The values of VCM and HCM were measured for all patients collected. The results were divided into four age groups (1 to 10 years, 11 to 20, 21 to 60 years, 61 to 98 years). The overall mean MCV of patients aged 1 to 10 years of both sexes was 77.0 fL and HCM of 26.7 pg. In patients aged 11 to 20 years, VCM was 83.8 fL and HCM was 28.7 pg. Patients aged 21 to 60 VCM was 85.4 fL and HCM was 29.1 pg. And finally, patients aged 61-98 years, the VCM was 86.9 fL and HCM was 29.4pg. Conclusion: A high prevalence of hypochromic microcytic anemia has been observed in children 1 to 10 years of age.
Keywords
Anemia; erythrocytes; prevalence
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